Advogada vence obstáculos com cão guia


O Estado de São Paulo, 28/07/2001

Thays está trazendo para São Paulo programa de doação de animais para cegos

ZULEIKA HADDAD

Foi o fiel e alegre cão guia Bóris, um labrador de 2 anos e meio, que levou a advogada Thays Martinez, de 27 anos, deficiente visual desde os 4, a empenhar-se a desenvolver o Projeto Cão Guia. A iniciativa, pioneira na América Latina, começou em Florianópolis, em uma escola de treinamento, e o núcleo paulista será inaugurado na segunda-feira em São Paulo. A meta é treinar cachorros para serem doados a cegos.

Atualmente, há no País cerca de 1,6 milhão de deficientes visuais, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Somente 16 possuem cães guias. Há 1 ano e 2 meses andando acompanhada de Bóris, Thays considera que o animal mudou sua vida por lhe transmitir confiança e interdependência. "É importante oferecer essa oportunidade a outras pessoas", afirma.

Os constrangimentos por que passou, como ser barrada no metrô e ter de entrar com ação contra a empresa, não a desanimaram. Os obstáculos deram-lhe força. Há dois meses, Thays passou a dedicar-se exclusivamente ao projeto.

Para tanto, licenciou-se de seu cargo no Grupo de Atuação Especial de Proteção às Pessoas Portadores de Deficiência do Ministério Público Estadual (MPE).

Legislação - O primeiro passo nessa mudança foi a elaboração e aprovação em abril da Lei Estadual 10.784, que permite ao deficiente visual circular em lugares públicos com cão guia. "Já existia norma municipal, mas não era suficiente para a entrada do animal em meios de transporte público", afirma o promotor Lauro Luiz Gomes Ribeiro, com quem Thays trabalhava.

A lei estadual, de autoria do deputado Walter Feldman (PSDB), ainda precisa ser regulamentada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para descrever as exigências que deverão ser cumpridas pelos cegos que pretendem andar acompanhados dos cães, como controle de vacina e adestramento. "Isso é necessário para não colocar pessoas em risco, o que mandaria o projeto por água abaixo", avalia Ribeiro. O promotor considera o projeto positivo, porque poderá tirar o estigma de que o cego é um "coitadinho". Segundo Thays, a proposta está na fase de captação de recursos e tem por primeiro patrocinador o grupo Visa.

Conquista - Andando com mais desenvoltura, ela diz que, além de ajudar a ultrapassar obstáculos no chão e até em altura, Bóris facilita a aproximação das pessoas. "Todos me vêem de outra forma porque o animal os conquista." Thays já andou de avião com o labrador, que até na hora de dormir fica do seu lado, faz caminhadas diárias no parque, vai aos shoppings e a restaurantes.

As raças mais comuns de cães guia são labrador, golder retriever e pastor alemão. O único treinador dessa área no País, Moisés Vieira dos Santos Júnior, da Escola Helen Keller, participa do projeto. Em outubro, ele deverá levar quatro pessoas para treinamento nos Estados Unidos. Os gastos para manutenção do programa e dos animais ainda não foram calculados.

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