Juizes e Julgamentos Caninos


Prof. Werner F. Kirschbaum, Juiz All Breed e Especialista de 20 raças de FCA – FCI,
Juiz de Aves e Coelhos de AACA e SRA, Juiz de Vacunos de carne da SRA,

1. Juizes e objetivo das Exposições Caninas

Se o juiz não atende as expectativas numa exposição, todo mundo vai ter alguma coisa para conversar. Resulta então interessante analisar as características e qualidades, que encontramos e deveriam possuir os juizes, por ser sumamente importantes para compreender este tipo de exposições e suas conseqüências para as raças. As exposições caninas constituem atualmente ainda, uns dos mecanismos preponderantes da seleção canina, onde juizes considerados expertos cinológos, elegem em geral por comparação dentro das limitações da apreciação visual e morfológica, os exemplares que se aproximam mais do ideal do Padrão da raça, resultando nos potenciais reprodutores da mesma. Ao falar de raça, nos referimos ao total dos representantes da mesma, ou seja, toda sua população. Por isto, mais do que julgar, o trabalho do juiz consiste em classificar os animais pensando em utiliza-los para a reprodução. Logicamente há uma certa quantidade de pessoas, que expõem seus cães exclusivamente pela vaidade de ganhar prêmios. Este é um comportamento normal no homem, que muitas vezes aspira a sair do anonimato. Isto tem pouco a ver com o melhoramento das raças caninas, embora eventualmente isto possa beneficiar algumas atividades econômicas, que geralmente estão associadas à cinofilia.

2. Juizes

Considera-se que um juiz deveria ser um experimentado conhecedor, em todos os aspectos concernentes, tanto teóricos como práticos das raças, das quais ficou responsável de classificar em pista. É fundamental e prioritário que um juiz possua o notável olho e o talento que resulta imprescindível para atuar com seguridade, na classificação dos exemplares. Sem isto nunca poderia exercer eficientemente esta tarefa. Lamentavelmente esta capacidade é inata e impossível de ser adquirida de forma alguma. "O que natura non da, Salamanca non otorga" é uma antiga, certa e apropriada frase ao respeito. Por alguma razão aos grandes juizes, ouvimos dizer sempre: "Nasce-se juiz , não se faz". Por isto trata-se de uma fauna pouco numerosa e detectável somente com testes específicos. Agregando estudo, personalidade e experiência o juiz adquire as qualidades desejadas.

Um juiz resulta ser um especialista considerado expert, do qual os expositores estão interessados em conhecer sua opinião e parecer sobre os exemplares expostos, devido à sua reconhecida autoridade no tema. Todo juiz sabe, que sua tarefa é ingrata. Sempre são mais os perdedores, que os vencedores. Não é uma forma de repartir simpatias. Mas o bom juiz, apesar de tudo, é sempre respeitado.

Os resultados nos julgamentos de diferentes juizes podem variar em alguns matizes, mas jamais deveriam ser fatores fundamentais concernentes à funcionalidade da raça. Por isto deve-se exigir, que os resultados de todo juiz, sejam basicamente coerentes e logicamente, honestos.

O juiz deve levar em consideração, que como às vezes parece acontecer, não é sua pessoa o mais importante que se move na pista. Durante sua gestão os transcendentes são os animais que esta julgando e as opiniões que resultam de seus falhos. Deve desprender-se de todo vedetismo. Para isso, deve atuar na pista como um diretor de orquestra, e que resulte o mais despercebido possível, movendo a os animais de forma tal, que os presentes à expo possam compreender suas apreciações. De forma que seus veredictos expressem um julgamento honesto na pista. Uma boa metodologia de julgamento facilita ao juiz seu julgamento e paralelamente a compreensão do público de suas opiniões.

O juiz que mostra seu trabalho, sempre o efetua com resultados acertados, pois não tem que esconder suas dúvidas e seus compromissos. Claro que todo juiz deve poder desprender-se e afastar-se de toda situação política e econômica existente dentro dos interesses do evento. Lamentavelmente isto sempre existe e há prejudicado mais de um julgamento.

O juiz deve possuir a suficiente personalidade e honestidade de saber atuar em forma completamente independente desconhecendo toda pressão externa. Para isso se afirma que a melhor filosofia, que um juiz deve adotar ante tal encruzilhada de um julgamento, é entrar na pista como se fosse à última oportunidade.

Um juiz deve julgar uma raça, se deseja considerar-se um experto na mesma, com critério populacional. Tendo que não existe possibilidade de melhoramento, se não se leva em consideração toda à população da raça. Um cachorro não faz a raça., Mas se tem a potencialidade de melhorá-la, foi escolhido corretamente. De todo o dito podemos sintetizar que o juiz deve atuar em forma desmistificada, ou seja, não como uma vedete na pista; despolitizado, desconhecer os interesses políticos dentro do evento e também descomercializado, pois em toda exposição se movimentam interesses econômicos poderosos.

Todo o dito com respeito a os juizes das exposições caninas demonstram, a enorme influencia que eles tem na evolução de uma raça por ser aqueles, que assinalam as tendências na seleção das mesmas, ao marcar os ganhadores como potenciais reprodutores de esta. Esta influencia ha aumentado mais ainda com a possibilidade da utilização da inseminação artificial, pela maior quantidade de progênie, que pode se obter de um reprodutor, com a conseqüente maior influencia que produz em toda a raça.

3. Formação e Eleição de Juizes

Dado que a labor dos juizes cinológicos, requer de uma condição inata na mesma e seu trabalho é de um elevado nível técnico específico como também de uma moral pública inatacável. A seleção e formação dos mesmos deve seguir um caminho inquestionável e basicamente serio, de acordo com o objetivo procurado, de formar juizes altamente profissionalizados, que beneficiem com suas classificações e eleições as raças caninas. Embora isto resulta muito evidente, na nossa cinofilia, não existe como deveria ser, um sistema com a suficiente consistência.

O caminho lógico para chegar a isto é que a labor técnica dos juizes conte com uma independência suficiente do quadro diretivo da cinofilia, de forma tal que tudo aquilo que é concernente a os juizes, em primeira instância seja resolvido pêlos mesmos. De forma tal que os juizes contem com a mínima garantia de evitar a politização dos mesmos. Deve existir um exame, como aplicado nos países desenvolvidos, pelo qual previamente se faz uma prova de talento. Pois não tem sentido gastar o tempo e o esforço, com resultado estéril, de treinar e ensinar a possíveis candidatos, que carecem das condições para alcançar essa formação. Isto não é de estranhar, pois sucede com o aprendizado de muitas atividades nesta vida. Por exemplo, aprender a tocar um instrumento musical. De nada adianta se carecemos de ouvido e da capacidade técnica. Nomear candidatos a juizes, que não cumpriram com esta condição, não terá as possibilidades de chegar a ser um juiz, que beneficie a cinofilia com seus falhos. A continuação deverá cumprir com os requisitos de um programa de formação dos candidatos a juiz com exames práticos e teóricos. Com o qual se garantirá a existência de juizes idôneos que satisfaçam aos expositores que são os que fazem o maior esforço e gasto para o êxito das exposições.

Deve-se evitar dentro da cinofilia a péssima costume de autonomeação dos juizes cinológicos pêlos dirigentes da cinofilia. que provocam resultados questionáveis, sensação de falta de seriedade e mal-estar dentro da precisa dirigentes cinológicos com grande capacidade empresarial, somado a um critério cinológico. Por isso não se pode pretender que administradores de entidades cinófilas sejam grandes juizes de raças de cães. É por isso a dualidade de juizes dirigentes não há dado o melhor resultado na seleção dos cachorros para o melhoramento dos mesmos. Deve-se evitar também, que expositores e handlers sejam nomeados e atuem como juizes. Não é possível, que em qualquer competência, os rivais e os juizes se encontrem no mesmo nível. Na América do Norte e Canadá onde a cinofilia esta profissionalizada e trata de ser totalmente transparente, todas estas coisas são inconcebíveis.

4. Julgamentos

Qualquer assistente a uma exposição canina fica surpreendido freqüentemente pela grande divergência, que acontece em certas oportunidades nos falhos, dos diferentes juizes que atuam numa exposição ante os mesmos cachorros. Isto é ainda mais grave quando nos deparamos com exemplares dentro de uma mesma raça. Supõe-se que existe um padrão de uma raça e por ele se guiem os juizes para julgar a mesma. O padrão de uma raça de cães surge de quando se encontram o cachorro ideal para cumprir uma função determinada, descreve-se o mesmo e nele também se estabelecem os parâmetros mínimos e máximos, que deve possuir o mesmo. Se isto fosse assim e se se aplica o padrão ao julgar uma raça determinada, então as diferenças entre os juizes não deveriam ser muito marcada. Os melhores cachorros dos diferentes juizes deveriam encontrar-se nas diferentes classificações entre os primeiros lugares. Quando isto não acontece se deve a que existem diferentes critérios de julgamentos, entre os juizes, os quais não podem ser justificáveis.

O primeiro que se adverte ante estas diferenças é que há apreciações e metodologias de julgamento diferente entre os mesmos. Podemos marcar as diferenças possíveis, que podemos detectar entre os diferentes juizes. Primeiramente a falta do bom e rápido olho na apreciação e avaliação dos exemplares, revela facilmente a falta de talento do juiz no seu julgamento. A marcada diferença entre os animais eleitos, a lentidão e insegurança no seu trabalho e uma marcada tendência a um julgamento dos cães parados e estáticos, produzem falhos erráticos e incoerentes, difíceis de explicar. Depois se apreciam marcadas diferenças por diferentes metodologias no processo de julgamento. Logicamente todos fazem o ida e volta, de rigor, para apreciar ambos trens em ação, e depois a visão lateral de movimento. Mas tem que saber apreciar a estrutura de um cachorro em movimento.

Carol Weinberger, uma grande criadora, handler e 'trimmer' de Schnauzer miniatura em USA, demonstrou que era possível apresentar um aspecto quadrado, com a magia do triming apropriado. Afirmava, que valia a pena fazer este trabalho, pois o 90 % dos juizes americanos não sabiam apreciar a estrutura de um cão em movimento. Ante esta situação, o 'stay' final era definitório, e o cachorro, que aparentava ser quadrado, continua em frente pelo triming. Na volta trotando, se poderia detectar facilmente, que o cachorro era comprido. Frank Sabella, grande criador e handler de Poodle e posteriormente grande juiz All Round, afirmou que todo cachorro que levado a se mover, pendurado pelo pescoço com a guia, para que levante a cabeça, possui um problema no trem dianteiro.

Facilmente percebemos que segundo como se olhe o cão os resultados serão diferentes. Começamos pela avaliação exclusivamente em 'stay'.

Existem dois fatos, que produzem facilmente erros. Primeiro, que ninguém possui olho radiográfico e segundo, que um handler apropriado troca a imagem do cachorro. Ambos produzem apreciações visuais e morfológicas, erradas do animal. Muitos acreditam, que tocar e passar a mão pelo corpo é uma grande solução para chegar a uma definição. Não se aprecia, muito mais do que está á vista tocando. A única solução para apreciar corretamente, a estrutura é analisando o cachorro em movimento ao trote em linha reta.

Os conhecedores da mecânica do movimento do cão, declararam enfaticamente, que no trote aprecia-se perfeitamente a boa propulsão traseira com uma boa colocação da garupa e angulações, uma firmeza da linha superior transmissora do empurro traseiro, e o alcance dianteiro produto de uma escápula bem colocada, um úmero suficientemente comprido que permita uma angulação dianteira equivalente à traseira. Desta forma poderá constatar-se a continuidade harmônica do desplasamento do cão, produto da sua correta estrutura.

O trote mostra as qualidades ou faltas da totalidade do corpo do cachorro, em forma muito maior, que qualquer outro andar ou posição. Mas estão aqueles, que movem os cachorros em círculos e as vezes todos juntos. Neste caso o cachorro recarga num só lado do corpo e também os handlers e o mesmo juiz fica tonto ante tal sistema, com o conseguinte falhos poucos claros.

Mas um Juiz All Round deve apreciar também o movimento distintivo e típico, que tem cada raça. Um Saluki, que se move na areia, teria um movimento diferente ao de um Afgano, que move-se em terreno quebrado e com pedras. Embora, ambos sejam galgos. Deve acrescentar-se, que o 'stay' é uma posição forçada no cão. Nunca um cachorro fica um período longo de tempo em 'stay'. O cachorro ou move-se ou senta-se. Então tal posição é uma agressão, que o cachorro não merece e deve considerar-se, uma forma de mau trato ao cão. Por isso deve mostra-se o cão parado normalmente com a guia solta, com o qual se obterá uma amostra mais objetiva do cachorro, onde o juiz e o publico poderiam apreciar mais suas qualidades.

Outro tema é a revisão da dentadura. Alguns juizes olham a mordida e apenas uma vista lateral dos dentes e não dão importância à falta dos primeiros e pequenos premolares. Nem falar de olhar o último molar inferior. Ante esta situação, aqueles juizes sérios, que fazem uma revisão exaustiva da dentadura são às vezes incompreendidos. Mas brindam um grande apoio para evitar de criar com cachorros com faltas dentarias, que criam tantas dores de cabeça e perdas de tempo aos criadores quando repentinamente na sua criação aparecem problemas dentários, cada vez maiores, por desatender pequenas faltas no começo.

Existe um fenômeno, que se produz na cinofilia de USA perto do ano '60 do século passado. Os handlers chegam a ser juizes com o qual o 'handling e o triming' adquirem uma grande importância nos julgamentos, caindo rapidamente as raças, em exagerações e no chamado preciosismo, que produzem as modas do momento e de acordo com elas os cachorros variam segundo os gostos das épocas. Mas ademais sabemos que os americanos sempre tiveram a tendência herdada dos ingleses de refinar as raças levando-as a um extremo exagerado. Os ingleses ao selecionar inicialmente os cavalos para a corrida notaram pela sua seleção à formaram-se em animais mais leves e finos de osso e maiores na estrutura. Imediatamente para os ingleses todo o leve era mais fino e por isso toda a seleção caminhou ao refinamento e afinamento. Mas os cavalos para todo uso dos camponeses que eram fortes e pesados, são considerados ordinários. O mesmo aconteceu com os cachorro no qual não só os galgos afinaram-se mas também quase todas as raças grandes que perderam substância osso craniano e na atualidade inclusive o tamanho.

O preciosismo surge com o conceito que o cachorro de exposição deve ser basicamente lindo e espetacular, com o qual caíram em exagerações por pensar que a beleza tende ao refinamento, o qual é um grave erro. Primeiro porque a beleza é um conceito subjetivo muito pessoal. Mas há um fato fundamental na cinofilia, onde o padrão é produto da seleção funcional do cão. O mesmo esta de acordo com a definição socrática da beleza, que afirma "que somente é belo, o que é útil'. Todos sabemos, que a função faz o tipo no cachorro. Quando a função, numa raça de cachorros se perde, a mesma some com o tempo inexoravelmente. Estes juizes afirmam, que a funcionalidade carece de valor na cria de cachorros de exposição. A que interessa se o pointer caça ou se o boxer defende a seu dono, se ambos ganham com esse tipo de juizes Best in Show. Caímos na conclusão que o errado não são os cachorros, senão o produto de semelhantes juizes.

Quem se interessa possuir um pequines de nariz chata exagerada, que acaba asfixiado, ou um cachorro, que inclusive para que se mova tem que enforca-lo , leva-lo pendurado e arrasta-lo na pista. Dedique-se um criador a criar cachorros exclusivamente para exposições e veremos que tem pouca vida, por Ter um mercado reduzido.

Que aconteceu com a raça poodle com seus cachorros espetaculares, produto de uma seleção irracional, mas com um caráter histérico, já ninguém queria nem de companhia. Lembremos ao Ovelheiro Alemão Manhattan ganhador em Westminster e Melhor Cão do Ano em USA, Handling espetacular. Sobreangulado na traseira , da dianteira, linha superior fraca, pelagem fraca, tinham que pendura-lo da guia para mostra-lo, senão caía de nariz, e para colmo tiveram que sacrificá-lo por displasia extrema. Lembremos outro caso, essa cadela dobermann, Serengeti considerada insuperável, ganhadora de inumeráveis BIS, que era a negação do que se espera de um Dobermann, começando pela sua falta de substância, osso e de carater. Quem quer um dobermann Bis que não é capaz de defender seu dono. E que me dizem de esses Fox Terrier Smooth, que carecem da força, boca e tamanho, com o qual são incapazes de caçar um mísero ratinho. Do padrão neles já não fica nada.

É interessante observar nos grandes países da cinofilia, que os ganhadores do ranking freqüentemente não são os melhores cachorros das raças nem os melhores reprodutores da raça. Para isso é só contar com um bom capital e handler, para poder concorrer a todas as exposições possíveis. Ante estas situações os resultados das exposições dependem de quais são os critérios, que tomam os diferentes juizes. Se pomos um juiz americano e logo um da FCI, vamos ter resultados muitos diferentes.

O mais interessante é quando elegem-se os Melhores do Grupo e finalmente o Bis. Muitas vezes se vem julgamentos muito estáticos. Esquecem, que um cachorro tem vida, e que a vida é algo continuamente dinâmica, e os julgam paralisados no seu 'stay' . Geralmente temos o juiz parado ante os 10 Melhores do Grupo, e num ato de aparente inspiração surge o Bis, como por arte de magia. Os assistentes à mostra, frustrados por não entender nada, de como surgiu este exemplar.

As exposições resultam não ser mais que um divertimento, de um jogo de azar. Mas esta disparidade de resultados, resulta na maior decepção para os criadores, já que a opinião que emitem os juizes terminam por carecer de utilidade como guia para o melhoramento das raças.

Chegou-se a tal grau de especialização, que os interessados em ganhar um Bis em exposições gerais, procuram o cachorro, que tenha as qualidades espetaculares de um ganhador, independente, que represente, somando o melhor handler possível, que o presente em pista. Para isso os grandes criadores não se guiam para o melhoramento da raça que criam, da opinião dos juizes, senão que as tomam como algo trivial, o qual não deveria acontecer. Salvam-se de estas situações os grandes juizes de raça nas exposições especializadas e entidades prestigiosas onde realiza-se um trabalho serio e racional, com os resultados que saltam à vista de todos os presentes. Surge que há dois tipos de exposições possíveis. As de Bis o fundamentalmente de beleza e as outras mais especializadas, com um critério mais exigente dentro de cada raça. De acordo ao gosto de cada um, é necessário que exista a informação de a que tipo de exposição a gente deseja assistir ou expor, para não ficar finalmente surpreendido com o resultado.