DOMESTICAÇÃO DOS CÃES


1. Introdução

O comportamento animal é uma ciência ainda pouco difundida, principalmente aqui no Brasil porque as pessoas desconhecem a significante importância de saber como que o cão se comporta diante das inúmeras situações que ele enfrenta no seu convívio com a sociedade humana.

O comportamento é uma propriedade emergente da função do sistema nervoso e não pode ser facilmente explicado apenas com base nas propriedades dos neurônios individualmente ou mesmo nos conjuntos selecionados de neurônios. O comportamento é a expressão da soma de contrações musculares isoladamente e de secreções hormonais.

A ordem, o tipo, o momento e a quantidade relativa das contrações musculares e das secreções hormonais determinam que tipo de comportamento irá ocorrer. 10 Portanto, o comportamento é o resultado do modo como os vários subsistemas nervosos e hormonais interagem entre si e com o mundo externo e interno.

No caso da agressividade, poderíamos citar a interação do Sistema Límbico, que é abastecido de noradrenalina pelo locus ceruleus, e em relação à neuroanatomia, a amigdala cerebral que pode ser estudada para o entendimento do medo , da ansiedade e das fobias, incluindo a agressividade.

Devemos lembrar também do papel da serotonina no comportamento agressivo, pois, a maioria das desordens no metabolismo deste hormônio, estão presentes nos diversos problemas de comportamento.

É importante saber que as desordens do comportamento são provocadas por alterações em várias situações, como por exemplo alterações físicas que provoquem dor, alterações neurológicas como uma neoplasia cerebral, alterações fisiológicas, e ainda podem ser provocadas, e na maioria das vezes são, pela genética, no caso da hereditariedade e pela pequena e às vezes nenhuma compreensão das pessoas sobre a natureza canina.

2. Objetivos

O objetivo do trabalho é mostrar que os cães não são humanos. É mostrar que eles têm necessidades e comportamento próprios e que por causa do desconhecimento que as pessoas têm em relação à isto, entram em conflito com seus cães no que diz respeito ao seus relacionamentos provocando os problemas de comportamento, tornando esta convivência desagradável e no caso da agressividade, perigosa. Será discutido também os diferentes tipos de comportamento agressivo e seus tratamentos, incluindo a modificação do comportamento através de exercícios, a castração e o uso de drogas.

3. O Vínculo Homem-Cão

O vínculo homem - cão, como é visto hoje, é uma moderna manifestação de um importante e incomum evento que aconteceu há mais de 11000 anos na região da Caverna Shanidar no Iraque. Este evento foi a domesticação do cão. O estabelecimento do vínculo homem-cão firmou o caminho para um processo que tem desde então, provido os seres humanos com uma vasta variedade de produção de alimentos, transporte e animais de companhia. 1

O entendimento das mudanças nos cães e nos seus relacionamentos com seres humanos durante os primeiros mil anos de contato é pertinente a um número de aspectos problemáticos do vínculo homem-cão como é visto nos dias de hoje em nossa sociedade. Estes aspectos incluem os problemas com mordidas de cães, os quais se relacionam com a agressividade fisiológica, patológica e hereditária. 1

3.1. A Domesticação e Dispersão dos Cães Primitivos

Inúmeros informativos resumem a domesticação do cão no Oriente Médio e dão detalhes do desenvolvimento do relacionamento entre seres humanos neolíticos e o Canis sp selvagem daquela região. A maioria destes cenários de domesticação sugere uma ou mais subespécies do lobo no sudoeste asiático (C. lupus pallipes, C. lupus arabs) como os canídeos que provavelmente se envolveram neste processo, e sua posição é geralmente mantida por material arqueológico disponível. Entretanto, este contato inicial foi seguido pela rápida dispersão destes seres humanos primitivos e seus "cães-lobos" para fora do Oriente Médio, se movendo para o sul em direção a África, e para o leste, atravessando a Índia em direção ao sudoeste asiático, e existem poucos materiais arqueológicos úteis disponíveis nestas regiões. 1
Deste modo, existe uma notável carência de informações sobre as características destes cães-lobos precocemente domesticados e sobre seu relacionamento durante o desenvolvimento do vínculo homem-cão. 1

As raças caninas como são conhecidas por nós só vieram a se estabelecer de maneira organizada há aproximadamente 200 anos. Mas antes disso o homem já selecionava cães para funções específicas. 13

Cães de luta foram selecionados para atacarem rápida e inesperadamente sem aviso, terem um baixo limiar a estímulos que desencadeassem o ataque, alto limiar para dor (menor sensibilidade à dor), perderem o reconhecimento de sinais de submissão que interromperiam o ataque e finalmente foram muitas vezes selecionados para lutar até a morte. Assim é muito comum que pessoas atacadas por cães digam não ter visto nenhum aviso por parte do cão. 13
A base genética da agressão pode ser demonstrada se compararmos a agressividade dos animais domésticos e dos selvagens os quais descendem. Como exemplo, podemos citar a domesticação do lobo transformando-o em cão. Neste caso, foi o interesse pela facilidade de manejo que levou o homem primitivo, geração após geração, a escolher como reprodutores os animais mais dóceis.

Em outros casos, a seleção humana se dirigiu no sentido de produzir animais mais ferozes, demonstrando aí também a base hereditária da agressividade. 9 Uma vez que na matilha, é o cão dominante que tem, entre outras funções, o papel de guarda do território e defesa dos membros da matilha. Para que o cão cumpra esta função, ele deverá impedir que estranhos à família (matilha) se aproximem ou invadam seu território. 13

Para entender melhor o comportamento natural dos cães em seu sistema social, devemos conhecer como funciona a organização social dentro da matilha, bem como a liderança de grupo, a qual compreendem os comportamentos de dominância e de submissão, pois a incompreensão que a maioria dos donos de cães possuem em relação à natureza canina é o que provoca, muitas vezes, o comportamento agressivo do animal.

4. A Matilha e seu Líder

Os cães são animais predadores que vivem em grupos familiares extensos, possuindo uma complexa organização social. 11 Eles, mesmo após muitos anos de domesticação, ainda possuem todos os instintos que seus antepassados precisaram para sobreviver até hoje, como a sobrevivência na natureza, a proteção e o afeto com os companheiros.
Estudos de comportamento dos lobos e cães selvagens indicam que a agressão e a violência são exceções; brigas acontecem somente em último caso. 2 Isto porque quando os cães brigam realmente, eles se machucam, e qualquer membro da matilha debilitado diminui as chances de sobrevivência do grupo. 11

Cães e pessoas podem viver juntos porque possuem sistemas sociais parecidos. Neste sistema, existe um grande cuidado dos pais para com a prole, é usada a comunicação vocal e não-vocal, e é baseado em consideração, não violência física e controle. 2

Pelo fato de cães e pessoas terem estruturas sociais parecidas, nós nos familiarizamos com muitos sinais caninos. Isto se torna um problema, pois as pessoas assumem que os sinais caninos são exatamente como os nossos. 2

Sem a consciência de que somos diferentes, entramos em disputa com os cães e acabamos ficando nervosos ou frustrados com suas reações. Esperamos que os cães queiram o que queremos, que sintam como nos sentimos e, ainda pior, que pensem como nós pensamos. 11

Na matilha existe uma hierarquia relativa de estruturas de regras sociais e a posição do animal no grupo pode ser afetada pela idade, composição sexual do grupo social e por uma habilidade individual. 2

Por causa destas regras sociais existe um líder entre os cães da matilha, um cão que por suas habilidades ou força, irá conduzir ao demais. O líder impõe respeito através de sinais e atitudes. O tempo todo os animais recebem e passam informações uns aos outros a respeito de quem é o dominante e de quem é o subordinado. 11

Para os cães a hierarquia é obrigatória, e isto é muito importante para eles, portanto, cada cão sabe exatamente qual é o seu lugar dentro do grupo e se testam constantemente para saber quem é o líder, pois ser o líder da matilha significa proteger os demais membros e impor as regras para que o grupo prospere.

4.1. O Comportamento Dominante

Para o cão, a nossa família e os membros a qual ela é composta, inclusive ele, é a matilha, seu grupo social, e é claro que como todo cão, sempre tentará ser o membro dominante. Para isto acontecer, o cão irá testar todas as pessoas que vivem com ele exibindo comportamentos dominantes que muitas vezes irão passar desapercebidos pelo resto do grupo.

Por exemplo, alguns proprietários acham que o cão está dando um abraço neles quando coloca suas patas em seus ombros. Isto não é um abraço, é um desafio. Na comunicação entre cães, subir em outro cão com as patas da frente é um claro desafio. Acariciando cães no momento em que estão sendo desafiados, os donos, sem saber, "perdem" para eles. 2

Outros comportamentos exibidos pelo cão como ficar deitado em frente a uma porta, evitando que seu dono passe através dela; sempre querer andar na frente da pessoa em qualquer lugar que ela vá; se apoiar ou colocar a pata sobre o dono insistentemente em todas as oportunidades que ele tiver, definem bem o comportamento dominante e a constante disputa pela liderança do grupo que ele vive.

4.2. O Comportamento Submisso

Um cão submisso sabe qual é o seu papel na família e que este, com certeza não é o de líder. Por exemplo, cães que se apóiam sobre pessoas pedindo atenção não endurecem o corpo, abrem os olhos e acompanham a pessoa para que sejam tocados ou apoiados novamente. Cães buscando por intimidade, normalmente respondem com sons e depois pedem (mexem a cabeça lateralmente, rolam, emitem sons engraçados, balançam o rabo, colocam as orelhas para trás). 2

É importante entender que um cão submisso não é um cão triste, desprezado e medroso. Se na hierarquia familiar o cão ocupar o lugar mais inferior, ele não ficará desapontado, pelo contrário, ele respeitará a sua posição e viverá muito feliz, pois os cães são tão felizes sendo o membro mais subordinado da família quanto sendo o membro mais dominante. 4

5. Tipos de Agressividade

A agressividade é um sinal comportamental comum e que raramente tem origem exclusivamente orgânica. Na natureza, de acordo com a situação em um determinado momento, o cão exibe diferentes tipos de agressão.

O comportamento agressivo é todo aquele que tem como objetivo intimidar ou machucar uma pessoa ou um outro animal. 11

Para os cães que têm comportamento agressivo grave que possa comprometer a integridade física dos membros da família e de outros cães, é indicado o tratamento medicamentoso com o intuito de auxiliar o processo de modificação do comportamento.

Sendo assim, podemos dividir a ocorrência do comportamento agressivo em grupos e relacionar cada um deles com diferentes tipos de situação.

5.1. Agressividade ao Dono

Em relação ao dono e aos membros da família, o cão pode apresentar tipos de comportamento agressivo que podem estar divididos em: agressividade relacionada ao medo e a agressividade relacionada a crianças. 12

5.1.1. Agressividade Relacionada ao Medo

Este é um tipo de agressividade bem comum e bastante perigoso. Cães que são reprimidos por seus donos através de punição física têm grandes chances de começarem a atacá-los para se defender.
Filhotes que são mal socializados ou que apanham podem ficar traumatizados e, ao se tornarem adultos e se depararem com uma situação aparentemente ameaçadora, como por exemplo o dono vir em sua direção para abraçá-lo, o comportamento agressivo relacionado ao medo virá à tona e ocão atacará seu dono.

Cães que apresentam este distúrbio comportamental são muito ansiosos, não pedem por carinho e preferem ficar isolados.

É natural e adaptável para os cães sentirem medo de estímulos estranhos e apresentarem uma agressividade relacionada a este medo para que o estímulo responsável pelo medo ou ansiedade vá embora. 4 Portanto, o processo de socialização deve ser muito bem feito para habituar o animal a estímulos que normalmente desencadeiam o medo como aspirador de pó, cortadores de grama, ciclistas, trovões, automóveis e hospitais veterinários. Mas o mais importante para que o cão não demonstre agressividade é nunca usar de agressão física para puni-lo.

5.1.2. Agressividade a Crianças

Os cães também podem apresentar agressividade relacionada às crianças. Alguns cães reagem agressivamente somente com crianças, pois as crianças estão no mesmo nível de visão (altura) dos cães e seus olhares fariam o cão achar que elas estariam encarando-os sendo isto percebido como uma ameaça, fazendo com que os cães tomem uma atitude defensiva. 2

A tendência em atacar (crianças) está mais relacionada à reatividade do que a outros tipos de agressividade, e raças pequenas são quase sempre mais reativas que raças maiores. Portanto, raças pequenas não são muito apropriadas para famílias que possuem crianças pequenas. 4

Se um cão jovem aparenta ter medo de crianças, elas devem ser apresentadas ao cão de uma maneira tranqüila. Quanto mais velho for o cão, mais difícil será o processo de habituação. 4

5.2. Agressividade Dirigida a Estranhos

Uma questão que deve ser lembrada quando falamos em agressão a pessoas estranhas é a posse responsável e novamente deve ser citado aqui o processo de socialização do animal em relação às pessoas que ele irá se deparar quando for passear na rua ou em um parque, por exemplo.

5.2.1. Agressividade Territorial

A agressividade territorial pode ser observada na casa, no gramado, na vizinhança, durante um passeio, dentro do carro ou em qualquer lugar que o cão tende a freqüentar e marcar com sua urina.

Este comportamento é complicado pelo medo e poderá piorar se o cão ficar acorrentado por períodos prolongados. 12

Aqui o tratamento se baseia na prevenção, diminuindo a visão ou o acesso do cão à rua; cães gravemente afetados devem receber focinheiras, principalmente quando forem passear e também pode ser usada a modificação ativa do comportamento.

5.2.2. Agressividade Relacionada ao Medo

Este tipo de comportamento é defensivo e pode acontecer em diversas situações ameaçadoras como na clinica veterinária, em exposições caninas ou durante caminhadas.

Quando o cão não está acostumado (socializado), homens muito grandes, crianças, pessoas que parecem estar se movimentando de modo estranho (como os deficientes físicos) ou outras situações incomuns podem causar medo.

5.2.3. Agressividade Predatória

Mesmo depois de todo o processo de domesticação do cão primitivo, o instinto predatório essencial para a sobrevivência sempre esteve presente.

O cuidado que devemos tomar aqui é com os bebês, principalmente os recém nascidos que em resposta ao seu odor ou ao seu choro, o instinto predatório do cão pode aflorar e as conseqüências seriam devastadoras.

5.3. Agressividade Direcionada para Animais

Estes tipos de agressividade partilham de componentes instintivos muito fortes. Entre eles, podemos citar a luta para chegar à posição de líder na matilha e a predação.

5.3.1. Agressividade Dirigida a Cães da Mesma Casa

Lutas caninas domésticas freqüentemente são conflitos de dominância, tipicamente entre cães do mesmo sexo. Tais combates podem ser lesivos e mesmo fatais (no caso de briga entre duas fêmeas). 11

Estas brigas inconscientemente são provocadas pelos próprios proprietários, pois eles tentam dar o mesmo tratamento para ambos os cães e, às vezes, favorecem o mais fraco e submisso invertendo ou neutralizando a hierarquia que já existia fazendo com que o cão, que outrora era o dominante, tente novamente conquistar o seu lugar na matilha, e outra briga (disputa) acontecerá. 11

A hierarquia pode não estar bem definida para os cães e eles se mantêm em uma constante disputa para ver quem consegue uma atenção maior do membro dominante da matilha, que no caso seria o proprietário. 12

Respeite a hierarquia natural entre seus cães. Alimente, afague e leve para passear na ordem de dominância, sem se sentir culpado, pois esta é uma condição natural para eles e isto evita brigas e confusões. 11

Diferenças significantes de raça, temperamento, sexo e idade dos cães facilita a estabilidade da hierarquia, evitando as disputas, como por exemplo viverem juntos um Dog Alemão e um Poodle.

5.3.2. Agressividade Dirigida a Cães Desconhecidos

Os ataques a cães estranhos podem ocorrer antes ou depois da investigação que o cão agressor faz sobre o sexo e a atitude do cão-alvo.

Este tipo de agressividade normalmente acontece quando a socialização do cão não foi bem feita, ou seja, se ele não teve contato com outros cães, pessoas e barulhos em geral na fase correta do seu desenvolvimento social.

É importante não se mostrar amedrontado nem tensionar a guia ao passar por outros cachorros para que seu cão não os relacione com perigo . Ignore-os e continue andando. Procure fazer seu cão ter associações positivas na presença de outros cachorros dando a ele um brinquedo ou um agrado, ou mesmo comida quando ele ou você avistar outro cão. Com isso, seu cão, na próxima vez que se deparar com outro cão irá associá-lo com a brincadeira.

5.3.3. Agressividade Dirigida a Outros Animais

O comportamento que os cães exibem aqui é predatório, sendo difícil eliminar este comportamento instintivo.

O que se pode fazer é habituar o convívio entre os animais realizando uma aproximação segura entre os dois até que eles se ignorem. Caso ocorra uma resposta de caça, deve-se retomar a habituação.


6. Agressividade Transferida

Quando dois cães que vivem harmoniosamente começam a se morder no momento em que outro cão passa do lado de fora da cerca, estao demonstrando um comportamento de agressividade transferida.

Ao bater no cão, pode ser que a pessoa seja dominante e forte o bastante para evitar um ataque contra si, mas este ataque talvez seja redirecionado para outros membros da família como as crianças e, dependendo do porte do cão, isto pode ser bem perigoso.

7. Agressividade por Dominância

A agressividade por dominância é uma das formas mais comuns de agressividade em cães e se manifesta por um consistente e atípico comportamento agressivo contra as pessoas. Estes comportamentos incluem rosnar, agarrar e morder. É importante salientar que mordidas geralmente são precedidas por um aviso vocal.

A falta de compreensão sobre a natureza da agressividade por dominância em cães tem levado muitos proprietários a tentar lidar com este desvio de comportamento usando de punição física, ou seja, mostrando ao cão quem é que manda.

Os cães mostram agressividade por dominância em várias circunstâncias e o que liga estes eventos é a tentativa dos cães de controlar situações envolvendo pessoas. Situações típicas de provocação incluem:

Os alvos da agressão podem incluir um ou mais membros da família, ou o cão pode ser agressivo apenas com pessoas estranhas. Às vezes, alguns cães podem se mostrar agressivos apenas por stress causado, por exemplo, por um desentendimento na família que gere uma discussão.

A agressividade não é a mesma com todos os membros da casa. Um membro da família que não tenha muita dominância sobre o cão pode ser atacado com mais freqüência do que uma pessoa que é mais firme com ele, pois ele sabe que pode dominar uma pessoa subordinada a ele. Da mesma forma, alguns cães dominantes agressivos, sabendo que podem dominar pessoas submissas, as deixam de lado para desafiar o membro mais forte de família, ou seja, o líder.

A agressividade por dominância em cães, tipicamente se desenvolve na maturidade sexual, que normalmente ocorre entre 18 e 36 meses de idade (1 a 4 anos). Apesar de a maioria dos cães dominantes agressivos serem machos, esta condição pode ocorrer em fêmeas, freqüentemente em uma idade mais jovem.

Agressividade por dominância não é controlada por hormônios, mas a presença de andrógenos, incluindo a testosterona, ou a falta de estrógenos durante o desenvolvimento sexual ou social pode exacerbar a agressão. 2 Este distúrbio geralmente surge quando há conflitos na hierarquia adotada, no ponto de vista do cão. Se ele se achar superior, não gostará de seguir ordens de pessoas que estão abaixo dele. 11 Cachorros não querem igualdade, eles precisam estar acima ou abaixo de seus donos na hierarquia.

7.1. Os cães Dominantemente Agressivos

Em primeiro lugar, devemos saber que a palavra dominante não deve ser usada para descrever um cão que é somente afirmativo, confiante ou insistente. Ele pode ter todas estas características sem ser dominantemente agressivo.

Os cães com agressividade por dominância podem ser divididos em 2 grupos:

1.
     Aqueles que sabem que estao no controle e podem obrigar seus donos a fazerem suas vontades.
2.     Aqueles que são inseguros de seus papéis sociais e usam de comportamento agressivo para mostrar o que querem.

A maioria dos cães dominantemente agressivos estão no segundo grupo. Estes cães recebem informações sobre seus limites social e comportamental baseadas em como seus donos reagem à suas agressões.

Os cães nesta categoria parecem estar incertos de seu status hierárquico na família. Os cães do segundo grupo não direcionam a agressão igualmente para todas as pessoas porque respondem diferentemente a cada interação social.

De acordo com dados obtidos na Clínica de Comportamento do Hospital Veterinário da Universidade da Pensilvânia, muitos cães do segundo grupo também exibem comportamento de atenção. Estes cães são carentes e estão constantemente procurando pessoas que dêem atenção à eles. Estes cães têm um anormal desejo de controle e freqüentemente desafiam outros para determinar suas posições no meio social.

Pelo fato de cães afetados terem um distúrbio de ansiedade e estarem usando comportamentos agressivos para conseguirem o que querem, a punição física nunca deve ser usada. Punição física convence estes cães que a pessoa que os pune é uma ameaça. Portanto, o comportamento agressivo irá piorar. Bater ou surrar um cão afetado cria um relacionamento conflitivo, aumentando a ansiedade e a agressividade canina.

8. Diagnóstico

Antes de realizar um diagnóstico da agressividade por dominância, retire qualquer causa médica que possa estar contribuindo para este comportamento anormal. Algumas condições médicas como infecções, neoplasias ou problemas neurológicos e seus tratamentos, podem levar cães a serem mais reativos e a se comportarem inadequadamente.

Quando as causas médicas forem retiradas, o diagnóstico pode ser feito sendo baseado apenas no sempre presente comportamento agressivo.

A agressividade por dominância não está ligada a uma circunstância especifica, e seu diagnóstico não deve ser baseado em um simples evento. Por exemplo, o diagnóstico não pode ser feito se um cão morde quando é empurrado para fora do sofá; ele pode ter se assustado ou se machucado. Mas um diagnóstico pode ser feito se um cão morde quando empurrado para fora do sofá e também exibe outros comportamentos agressivos como rosnar quando o dono puxa sua cabeça para colocar a coleira, rosnar quando é advertido sobre algo, ou quando é incomodado enquanto está dormindo.

Estes comportamentos estariam enfrentando o impulso de controle do cão, ao invés de serem atividades normais. A agressividade por dominância não está diretamente ligada à situações que envolvam comida, posse (brinquedos) ou território, mas pode ocorrer junto com estes eventos e, se isto ocorrer, a situação pode ser severa. 2

Cães que são dominantemente agressivos e, por exemplo, pulam no seu dono para pedir atenção endurecem o corpo e respondem com um rosnado. Mais tarde, este rosnado pode se transformar em algo mais ameaçador, como uma mordida.

A freqüência e a intensidade dos comportamentos agressivos não afetam o diagnóstico, mas podem afetar o prognóstico e o potencial perigo do cão para com as pessoas.

9. Tratamento

A finalidade do tratamento da agressividade por dominância é melhorar o comportamento canino afetado para que a família possa viver em harmonia com o cão. Ele deve diminuir o risco de danos às pessoas, e de danos aos próprios cães. O tratamento neste caso deve ser humano, ou seja, devemos orientar o dono do cão em como ele deve agir com seu animal nas diversas situações que provocam este comportamento. Este tratamento envolve os seguintes passos:

Evitando-se certas situações e ensinando seus cães a prestar atenção, os donos podem quebrar o ciclo do comportamento agressivo. Os primeiros passos no tratamento da agressividade por dominância em um cão são de evitar circunstâncias que o provoquem.

9.1. Evitação

A vontade do cliente em tratar um cão dominantemente agressivo depende da intensidade do comportamento e se este cliente está apto a saber quando seu cão se tornará agressivo. Portanto deve-se obter uma detalhada história do comportamento do paciente.
Esta história indicará as circunstâncias em que o cão agirá agressivamente. O cliente deve ser alertado para evitar estas circunstâncias. Por exemplo, se um cão rosna quando é abraçado, o dono não deve abraçá-lo. Se um cão rosna quando é encarado, o dono não deve encarar o cão pois, ao encará-lo, o dono está pedindo para que o cão responda a um desafio. Isto irá apenas intensificar a agressividade. Se o dono não olhar diretamente nos olhos do cão, não significa que ele perdeu o desafio, significa que está evitando uma situação em que o cão poderia manipular.
A evitação provavelmente irá melhorar o comportamento de um cão afetado pois ele não será recompensado durante um bom tempo por um comportamento inapropriado.

9.2. Modificação Passiva do Comportamento

Ensina o cão a se subordinar ao dono. Este tipo de modificação do comportamento funciona porque incorpora sinais que os cães usam para se comunicar em seu sistema social natural.

Os cães têm um sistema social baseado na consideração à seus companheiros. Todos os animais sociais criam uma estrutura de regras permitindo que se comuniquem entre si. Os cães, freqüentemente parecem que estão prestando atenção em tudo o que a gente fala e muitas vezes nós presumimos que eles estão concordando com a nossa estrutura de regras. Mas filhotes e cães problemáticos precisa ter uma estrutura de regras consistente. Cães são receptivos à orientação e irão aceitar sugestões sobre a conveniência de seu comportamento a partir de seus donos.

A modificação passiva do comportamento é uma forma de disciplina que não envolve punição física. Para muitos cães, não se importar ou não dar atenção a eles é muito mais indesejável que a punição física. Cães que são tratados com agressão irão aprender a ignorar a punição ou aprender a procurá-la, desde que isto seja o único tipo de atenção que eles têm. A intenção da modificação passiva do comportamento é ensinar ao cão que ele deve mostrar consideração a seu dono para ganhar atenção.

Primeiro, os donos devem esquecer dos atos que normalmente provocam no cão medo, raiva ou os dois. Segundo, os donos devem estar bem cientes de suas interações com seus animais. Por exemplo, se o proprietário está falando, assistindo televisão ou lendo o jornal e o cão vem e se esfrega ou dá patadas, o dono normalmente e passivamente toca e acaricia o cão. O dono não está ciente de que o cão provocou aquela situação e que ela está em completo controle. O cão exigiu atenção, e o dono a deu.

Neste caso, o animal não deve ser recompensado no exato momento em que ele exigiu atenção. O dono deve esperar por alguns segundos até que o cão pare de colocar a pata sobre ele e, só depois disto oferecer o devido carinho ao animal.

9.3. Ensinando Consideração

O cão com agressividade por dominância deve aprender a te respeitar antes de deixá-lo fazer qualquer coisa (comer, entrar ou sair, colocar a coleira e até receber seu carinho e atenção). Podendo controlá-lo, você terá um relacionamento muito melhor e confiante com seu cão. O cão deve ter respeito com você antes de receber o que quer.

Por exemplo, se seu cão quer passear, primeiro peça para ele sentar usando seu nome e diga "senta". Não grite com ele, fale baixo e peça. Se ele sentou, espere de 5 a 3 segundos, recompense-o com carinho, ou um pouco de comida e vá passear. Assim ele associará o comportamento correto com a recompensa. Se seu cão não prestar atenção em você, ignore-o, saia de perto e deixe que ele venha te pedir de novo. Cedo ou tarde ele irá concordar.
Com isto o cão irá te considerar em tudo o que ele quiser, seu cão aprende a te olhar procurando por pistas sobre a conveniência de seu comportamento, o que em troca previne o comportamento indesejado. Ele aprende que, se responder à ordem que lhe foi dada, a recompensa chegará.

O comportamento de consideração faz com que seu cão se acalme e é um alivio para cães ansiosos. Um cão que senta é um cão menos reativo do que um que rasga coisas. Isto permite ao cão juntar uma pista verbal, o comportamento correto, e uma resposta fisiológica, como relaxar enquanto recebe a recompensa. Tudo isto tem um efeito calmante.

9.4. Modificação Ativa do Comportamento

A modificação ativa do comportamento inclui dessensibilização e contra-condicionamento e se baseia na modificação passiva do comportamento. Se o comportamento de consideração não for estabelecido, provalvelmente os donos não terão sucesso com esta técnica.
Basicamente, os donos acabam com as ações que fazem com que um cão se torne agressivo à situações e repetidamente expõe o cão à estas situações de uma maneira não ameaçadora (dessensibilização), recompensando-o com comida quando ele se mantiver relaxado (contra-condicionamento).

O dono precisa dessensibilizar seu cão de situações que fazem com que seu comportamento dominantemente agressivo aflore. O objetivo é manter o cão relaxado e fazer com que o dono consiga mexer com ele sem provocar agressões. A chave é acostumá-lo a coisas que ele pode ver como um desafio, como por exemplo abordar o cão à uma certa distância e tocá-lo.

Isto requer a cooperação de 2 pessoas, a pessoa que irá manipulá-lo e 1 ajudante. O ajudante fica em pé à uma distância de aproximadamente 3 metros ao lado do cão. O manipulador fica em pé ou sentado em frente ao cão e dá a ele comida e agrados pelo comportamento desejado. O cão conseguirá ver o ajudante com sua visão periférica, mas o objetivo é fazer com que o cão focalize diretamente o manipulador. 3

O ajudante inicia fazendo pequenos círculos no ar com o braço "curvado no cotovelo" o cão deve aprender a ignorar isto e relaxar, se o cão se mantiver relaxado o manipulador dará comida recompensando-o pelo comportamento desejado. Gradualmente o ajudante faz círculos maiores e mais rápidos. Se o cão permanecer relaxado, o ajudante poderá chegar mais perto e começar novamente a realizar círculos pequenos e vagarosos aumento progressivamente este exercício. 3

É importante que o cão permaneça atento ao manipulador durante o exercício. Olhar para o ajudante é aceitável apenas se o cão voltar rapidamente sua atenção ao manipulador por vontade própria ou se seu nome for chamado.

Continue estes exercícios até que o cão fique sentado, quieto e atendo ao manipulador, enquanto o ajudante faz grandes círculos sobre a cabeça do cão. Uma vez isto feito, o ajudante se aproxima vagarosamente e tenta tocá-lo, empurrá-lo rolá-lo. Observe o cão com cuidado assim que ele começar a ser tocado. Muitos cães dominantemente agressivos toleram gestos que não envolvem contato físico, mas se tornam agressivos ao mínimo contato íntimo. 3 Você sempre pode retornar a trabalhar à um nível menos reativo e gradualmente chegar à um nível mais íntimo.

Uma vez que o ajudante pode gentilmente empurrar o cão para o chão sem nenhuma resistência, todo o processo deve ser repetido em diferentes lugares, dentro e fora do local e de diferentes posições em relação ao cão. Todos os membros da família podem praticar sendo manipulador ou ajudante. 3

É importante recompensar o cão apenas quando ele agir apropriadamente. Se ele se torna aflito ou ansioso e não consegue completar uma parte do programa volte e calmamente trabalhe nesta parte. Limite seções de 15 a 20 minutos 1 ou 2 vezes ao dia. Se o cão se torna agressivo, pare por alguns minutos e então retorne aos exercícios.

Este programa de dessensibilização e contra-condicionamento é um meio gentil de ensinar o cão que pessoas não são uma ameaça.

9.5. A Castração como Alternativa

A castração pode suprimir a agressividade por dominância e ela é mais eficiente em animais jovens que apenas começaram a mostrar sinais de agressividade e/ou animais demonstrando sinais não tão fortes de agressividade. Como nenhum outro comportamento pode ser afetado pela castração, nem todos os animais respondem comportamentalmente bem a ela. 5
Progestágenos têm um efeito marcante sobre a agressividade por dominância contra pessoas. Acetato de megestrol a uma dose de 2 mg/kg V.O. é freqüentemente efetivo, dentro de 24 horas, na supressão da agressividade por dominância. 5

Em uma pesquisa realizada com 57 cães machos, de idade entre 2 e 10 anos, foi perguntado aos donos, 9 difíceis problemas de comportamento e que eles estimassem a porcentagem de melhora nestes comportamentos depois da castração.

Análises estatísticas revelaram melhora significante em relação à marcação da casa, montar, agressividade contra membros da família, agressividade contra outros cães no lar, agressividade contra cães desconhecidos, e agressividade contra humanos intrusos no território. Reduções significantes no medo sobre estímulos inanimados e na agressividade contra pessoas desconhecidas (fora da casa) não foram evidentes. De acordo com uma pesquisa anterior, os 3 padrões comportamentais com as melhores probabilidades de melhora foram marcação territorial pela urina, montar e perambular. Para estes comportamentos, 66% dos cães melhoraram em pelo menos 50% e 35% dos cães melhoraram em pelo menos 90%. Uma melhora de pelo menos 50% sobre os vários tipos de comportamento agressivo foi vista em apenas 30% dos machos. 5

Apesar da castração afetar um número de padrões comportamentais específicos de machos, a chance de alterar outros comportamentos depende do comportamento em questão. 5

A ovariectomia de fêmeas tem pouca influência sobre tendências agressivas. Entretanto, se fêmeas jovens são um pouco agressivas, retirar seus ovários antes dos 12 meses de idade pode predispô-las a agressividade quando adultas. 7

9.6. A Farmacologia no Tratamento da Agressividade por Dominância

Se a modificação do comportamento é usada no início do problema da agressividade por dominância, a terapia com drogas pode não ser requerida. Mas em alguns cães dominantemente agressivos, particularmente aqueles com mais de uma desordem de comportamento, a terapia com drogas em conjunto com a modificação do comportamento é necessária. 3

Antes de prescrever qualquer droga, devemos realizar uma anamnese completa do animal, médica e do comportamento. Cuidados devem ser tomados se o paciente é geriátrico, se sofre de anormalidades metabólicas ou cardíacas ou se recebe outros medicamentos. 10 Eletrocardiogramas devem ser feitos se o animal tem história de arritmias ou doenças cardíacas, pois estudos tem mostrado que o QRS e intervalos Q-T são afetados por certas drogas usadas para desordem de ansiedade (amitriptilina e clomipramina).

Antes de iniciar, durante e após a terapia tenha exames completos de hemograma e bioquímica, já que a maioria das drogas usadas no tratamento são metabolizadas pelas vias renal e hepática. 12

As drogas para o tratamento da agressividade por dominância podem seguramente ser utilizadas se tivermos um diagnóstico, reconhecimento do mecanismo de ação da droga, dos efeitos colaterais e de como a droga vai alterar o comportamento. Assegure-se de que as drogas serão dadas no tempo e na dosagem suficientes para obter o efeito desejado. Se o paciente não melhorar, o diagnóstico inicial deve ser reconsiderado. 10

No passado uma grande variedade de medicamentos foi utilizada para tentar controlar a agressividade por dominância. O lítio tem sido usado com sucesso particularmente em cães que possuem um componente estimulante para sua agressividade, mas infelizmente a dose terapêutica e a dosagem tóxica se sobrepõe em cães. Por este motivo ele não é usado rotineiramente. Existem novos antipsicóticos (Olanzapina, Risperidona e Clozapina) que podem ser úteis porém não ainda muito testados. 3

As primeiras escolhas para o tratamento de cães dominantemente agressivos são os antidepressivos tricíclicos (TCA's) e os inibidores seletivos da serotonina (SSRI's). Tranqüilizantes fenotiazínicos como a acepromazina e anticonvulsivantes não específicos como o fenobarbital não são mais utilizados com exceção da carbamazepina (Tegretol - Novartis), um anticonvulsivante que controla as "explosões" associadas a condições neurológicas e comportamentais em cães e humanos. 3

O Tegretol pode ser usado concomitantemente com o TCA ou SSRI para aumentar a eficácia, mas a leucopenia pode ser um sério efeito colateral se a carbamazepina for usada por muito tempo, portanto, o hemograma do paciente deve ser monitorado constantemente.

9.6.1. TCA's e SSRI's

Os TCA's incluem: Hidrocloreto de Amitriptilina (Elavil-Zêneca), Hidrocloreto de Nortriptilina ( Pamelor-Novatis) e Hidrocloreto de Clomipramina (Anafranil e Clomicalm-Novartis)

Os SSRI's incluem: Hidrocloreto de Fluoxetina (Prozac-Dista), Hidrocloreto de Paroxetina (Paxil-Smith Kline & Beecham), Hidrocloreto de Sertralina (Zoloft-Pfizer) e Maleato de Fluvoxamina (Luvox-Solvay). 3

Mecanismo de Ação

TCA's são bem parecidos estruturalmente com os antipsicóticos fenotiazínicos e são usados para tratar ansiedade, medo, desordens obsessivo-compulsivas e a dor neuropática em animais e pessoas. 6 Os TCA's tem 3 efeitos importantes: sedação, ação anticolinérgica central e periférica e potencialização de aminas biogênicas do SNC, como a Norepinefrina e a Serotonina, bloqueando a sua reabsorção nos neurônios pré-sinápticos, obtendo os efeitos antidepressivo e ansiolítico.

No geral os metabólitos dos TCA's, como por exemplo a nortriptilina, são inibidores mais potentes da reabsorção da norepinefrina do que seus compostos originais, enquanto que os compostos originais são inibidores mais potentes da reabsorção da 5-hidroxitriptamina. Um metabólito normalmente tem uma ½ vida similar ou maior do que seu composto original. 3

O conhecimento dos metabólitos intermediários é importante pois seus efeitos podem ser melhores do que os efeitos dos seus compostos originais, por exemplo, animais que são sedados ou que apresentam náuseas quando tratados com a amitriptilina, podem responder melhor ao seu metabólito intermediário, a nortriptilina em uma mesma dose.

Drogas selecionadas para o tratamento da agressividade por dominância


Droga Dosagem
TCA's  
Amitriptilina (Elavil) 1 - 2 mg/kg V.O. BID, por 30 dias
Clomipramina (Anafranil e Clomicalm)  
Imipramina 1 a 2 mg/kg V.O. BID, ou SID, por 30 dias
Nortriptilina (Pamelor) 1 a 2 mg/kg V.O. BID, por 30 dias
   
SSRI's  
Fluoxetina (Prozac) 1 mg/kg V.O. SID, por 8 semanas
Fluvoxamina (Luvox) 0,5 a 1 mg/kg V.O. SID, por 8 semanas
Paroxetina (Paxil) 1 mg/kg V.O. SID, por 8 semanas
Sertralina (Zoloft) 1 mg/kg V.O. SID, por 8 semanas
   
Anticonvulsivantes  
Carbamazepina (Tegretol) 0,5 a 1,25 mg/kg V.O. TID, por 14 a 30 dias
  E depois 4 a 8 mg/kg V.O. BID
Fonte: Overall, K.L.: Dominance aggression in dogs: Part 2. Veterinary Medicine. 1999.

Efeitos Colaterais

Para os TCA's os efeitos colaterais mais comuns em pessoas são: boca seca, constipação, retenção urinária, taquicardia e outras arritmias, ataxia, depressão, inapetência generalizada e desorientação. Os sinais normalmente se tornam mais brandos com a redução da dosagem ou com a descontinuação do tratamento. Em cães os efeitos colaterais mais comuns são: sedação e distúrbios gastrintestinais. 12

Para os SSRI's a Fluoxetina aparenta não ter efeitos sobre a Norepinefrina e a Dopamina e não tem atividades anticolinérgicas e antihistamínicas portanto, ela tem efeitos colaterais mínimos em pessoas.

Os TCA's e os SSRI's podem ser os personagens principais no tratamento da agressividade por dominância, mas eles devem ser utilizados racionalmente e em combinação com a modificação do comportamento. Um estudo mostrou que a modificação passiva do comportamento sozinha reduz a ansiedade do cão, mas a adição de TCA's ao tratamento acelera a melhora. Quanto mais você souber sobre mudança de comportamento e concomitante uso de drogas, melhor. 3

10. Conclusão

Durante a domesticação dos cães, os seres humanos moldaram o comportamento destes animais para agirem de acordo com as necessidades e vontades da sociedade e, por causa disto e pela falta de compreensão da natureza canina, muitos distúrbios de comportamento surgiram e se tornaram um problema para as pessoas. Graças a estudos do comportamento animal, os médicos veterinários têm a possibilidade de estudar estes distúrbios e tentar resolvê-los, juntamente com os proprietários para que a relação homem-cão se torne como ela deve ser, agradável.

11. Referências Bibliográficas

1. Brisbin, L.; Risch, T.S.: Primitive dogs, their ecology and behavior:
Unique opportunities to study the early development of the human-
canine bond. JAVMA 210 (8): 1122-1123; 1997.

2. Overall, K.L.: Dominance aggression in dogs: Part 1. Veterinary Medicine. 1999.
p. 975-985.

3. Overall, K.L.: Dominance aggression in dogs: Part 2. Veterinary Medicine. 1999.
p. 1043-1055.

4. Hart, B.L.; Hart, L.A.: Selecting, raising, and caring for dogs to avoid problem
aggression. JAVMA 210 (8): 1129-1133; 1997.

5. Hopkings, S.G.; Shubert, T.A.; Hart, B.L.: Castration of adult male dogs: Effects
on roaming, aggression, urine marking, and mounting. JAVMA. 168: 1108-
1110. 1976.

6. Horwitz, D.F.: Diagnosis and Treatment of canine separation anxiety and the use
of Clomipramine hidrochloride (Clomicalm). J. Am.Anim.Hosp. Assoc. 2000.
36: 107-109.

7. Voith, V.L.: Treatment of dominance aggression of dogs toward people. Modern

Vet. Pract. 63:149-152; 1982.

8. Campbell, W.E.: Behavior Problems in Dogs. 2.ed. American Veterinary
Publications, 1997. p.34-41; 201-211.

9. Eibl-Eibesfeldt, I.: O Comportamento Animal. Salvat do Brasil, Rio de Janeiro. RJ
1980, 142p.

10. Rang, H.P.; Dale, M.M.; Ritter, J.M.: Farmacologia. Guanabara Koogan
S.A., Rio de Janeiro, RJ, 1997.

11. Rossi, A.: Adestramento Inteligente: com amor, humor e bom senso. São
Paulo: CMS, 1999. 260p.

12. Swenson, M.J.; Reece, W.O.: Dukes/ Fisiologia dos Animais Domésticos.
11.ed.1996. cap. 39-40.

13. Lantzman, M.: Agressão Canina. (Online, Página de comportamento animal
aplicado. 2000, http://www.pet.vet.br)

Texto de autoria do Dr. Gustavo Farath Rondinoni - CRMV: SP 13217