Utilização da Dosagem de Progesterona no Manejo Reprodutivo de Cães

  Por: Dra Camila Infantosi Vannucchi, Médica Veterinária

O QUE É PROGESTERONA?

         O termo progesterona refere-se a um dos principais hormônios do ciclo reprodutivo da cadela. Este hormônio é produzido por células específicas nos ovários e em menor proporção pela placenta. Dentre todas as suas funções, pode-se destacar a capacidade deste hormônio em manter todo o período de gestação, por ser responsável por ação direta no útero e glândula mamária. Durante a prenhez na cadela, os níveis de progesterona devem se manter altos, até o momento do parto, quando há necessidade do declínio nos valores circulantes.

PORQUÊ DOSAR PROGESTORONA?

         Embora a produção de progesterona seja crucial para a gestação, durante o cio também possui atuação muito importante. Quando a fêmea inicia o período de sangramento vaginal (cio, período de proestro), o principal hormônio circulante é o estrógeno, responsável por todas as modificações clínicas observadas durante o cio (edema de vulva, corrimento vaginal sangüíneo e mudanças nas células da vagina). Porém, com o progredir do cio os níveis de estrógeno declinam, para haver o início da produção de progesterona, que permanece alta até o final do cio e durante toda gestação. Esta relação entre estrógeno e progesterona determina a mudança da fase de proestro para a fase de estro, período no qual o comportamento de aceitação à cobertura se estabelece.

         O período de estro, precedido pelo proestro, consiste na fase em que as ovulações ocorrem. Entretanto, os oócitos liberados durante a ovulação não são maduros o suficiente para a fertilização. Há necessidade de um período de maturação dos óvulos que, na cadela, tem a duração de 2 a 3 dias.

         Durante anos, vários estudos foram realizados no intuito de correlacionar estes eventos com os valores de progesterona mensurados. Atualmente, é possível identificar o momento de transição entre o proestro e estro, o período de ovulação e de maturação oocitária baseado nos valores de progesterona. Desta forma, a dosagem de progesterona é o método mais acurado para determinar o período fértil, ou seja, identificando precisamente o momento da ovulação.

QUANDO DOSAR PROGESTERONA?

         A dosagem de progesterona pode ser requisitada em algumas situações específicas: acompanhamento do cio, avaliação da gestação e para indicar a proximidade do trabalho de parto.

         A)    Identificação do período de ovulação: respeitando-se o comportamento próprio e natural de cada fêmea, a maioria dos acasalamentos ocorre de forma satisfatória e resultará em concepção. Entretanto, as causas mais comuns de falhas reprodutivas são as coberturas em momentos impróprios. Neste sentido, pode-se lançar mão da dosagem de progesterona quando:

         - Suspeita de infertilidade: a identificação do período fértil assegura que as coberturas sejam realizadas no período mais apropriado, excluindo a possibilidade de erros de manejo em fêmeas com histórico de falhas reprodutivas.

         - Fêmeas com ciclos irregulares: a variação no período de ovulação de uma fêmea para outra pode tornar difícil a identificação do período de maior fertilidade, por exemplo, nos casos de cios prolongados, ovulação precoce ou tardia, cios silenciosos ou cios anovulatórios.

         - Acasalamentos realizados com sêmen resfriado ou congelado: nestes casos, a longevidade do sêmen está prejudicada pelo processamento, portanto, a identificação da ovulação permite que o acasalamento seja realizado no melhor período, aumentando o sucesso do procedimento.

         - Acasalamentos com machos ou fêmeas sub-férteis: ao se detectar a ovulação, é possível maximizar as taxas de concepção de reprodutores com baixa fertilidade.

         - Número de acasalamentos restritos: ocasionalmente, um reprodutor pode estar disponível para apenas 1 ou 2 acasalamentos por razões de viagens ou por estar cobrindo mais de uma fêmea durante o período.

         - Desinteresse do macho ou fêmea: em muitas situações os reprodutores não se interessam pelo acasalamento por um erro de tentar a cópula em momento inapropriado, ou precoce ou tardiamente. Identificando-se o período fértil, a cobertura poderá ocorrer naturalmente.

         - Transporte da fêmea para acasalamento: a remoção da matriz para acasalamentos em locais distantes é um procedimento sabidamente estressante, podendo prejudicar ou inibir a ocorrência das ovulações. Portanto, ao se acompanhar o cio desta matriz, pode-se sugerir o transporte após as ovulações terem sido detectadas e, assim, evitar falhas reprodutivas.

         - Restrições dos proprietários: muitos criadores desejam saber o melhor momento para os acasalamentos para facilitar planos de viagem e maximizar as chances de sucesso de uma cobertura importante.

         - Predizer a data para parição: a duração da gestação pode ser calculada a partir do dia preciso das ovulações (detectado pelo acompanhamento do cio) e a data para o parto pode ser prevista com maior exatidão.

         B)    Acompanhamento da gestação: como a progesterona é o hormônio que mantém todo período de gestação, qualquer oscilação ou falha na produção deste hormônio pode levar à perturbações da prenhez como abortamentos ou embriões que são absorvidos, levando a um número de filhotes reduzidos por ninhada ou falhas de concepção.

         C)   Avaliar o início do trabalho de parto: os níveis de progesterona devem decair, alcançando valores baixos, para que o parto inicie. Sabe-se que quando ocorre queda dramática da progesterona é possível prever que o trabalho de parto deve iniciar-se em 24-36 horas. Esta informação é importante quando se deseja programar assistência ao parto ou a operação cesariana é a escolha.

         Para decidir quando iniciar as dosagens de progesterona é preciso lançar mão de outros exames complementares, tais como sinais clínicos do cio, citologia vaginal, vaginoscopia e ultra-sonografia. Quando se deseja identificar o melhor período para os acasalamentos, os exames complementares devem iniciar-se precocemente, por volta do 6o ou 7o dia de sangramento vaginal. Esses exames devem ser repetidos a cada 2 dias até a indicação do início das dosagens de progesterona que, também, devem ser realizadas com intervalo de 48 horas ou diariamente, em função da acurácia em que se deseja reconhecer o período das ovulações.

         Para os casos de acompanhamento da gestação, o início das dosagens de progesterona é preconizado logo após os acasalamentos, com intervalos semanais até o parto, perfazendo um total de 6 a 9 exames. Por outro lado, nas avaliações do início do trabalho de parto, as mensurações de progesterona devem começar ao redor de 2 semanas antes da data prevista para a parição, com intervalos variáveis dependendo dos resultados iniciais. Porém, durante os últimos dias de gestação, as dosagens de progesterona devem ser feitas no mínimo a cada 48 horas até que os resultados indiquem a queda dramática deste hormônio. 

COMO DOSAR PROGESTERONA?

         Basicamente, existem dois tipos principais de teste: os rápidos (ou semiquantitativos) e os laboratoriais (ou quantitativos). Em relação ao primeiro grupo, fornecem os resultados em alguns minutos, porém não são valores exatos de progesterona, mas relativos a um intervalo de valor conhecido. Embora bastante práticos ainda não são amplamente comercializados no Brasil. Em contrapartida, os teste laboratoriais são precisos e fornecem um valor exato de progesterona. Entretanto, os resultados não são obtidos rapidamente às vezes em 12-24 horas ou 15 dias, dependendo do laboratório.

         A utilização de um ou outro tipo de teste está em função da precisão e rapidez em que se deseja obter o resultado, dependendo da situação em questão.

         A dosagem de progesterona é atualmente um dos recursos mais importantes no manejo reprodutivo de um plantel. Apresenta inúmeras vantagens, porém, uma das mais importantes para a criação de cães é a possibilidade de melhorar os índices reprodutivos, sem a necessidade de utilizar até a exaustão os reprodutores, preservando-os.

SUMMER STORM KENNEL LABS