ARTIGO - DERMATITE SEBORRÉICA CANINA


As questões dermatológicas dos cães são entidades nosológicas que aparecem em grande volume na Clínica Médica Veterinária, tendo como causas inúmeras situações, desde as predisposições raciais, parasitas externos e internos, disfunções hormonais - pela não vazão do instinto da reprodução - agentes alérgicos ambientais, alérgenos alimentares e, muitíssimo, pelo manejo inadequado para um bem viver do cão. E aqui incluo o excesso de banho a que os cães são submetidos. Banho semanal, a qualquer cão, independente da pelagem longa ou baixa, é forte precipitador das alterações fisiológicas da pele, vindo a gerar doenças.

Os cães vivem, aos dias de hoje, com seus instintos naturais de espécie parcialmente retidos e reprimidos de uma maneira desordenada por essa exagerada aproximação junto ao dono.

Essa forma inadequada de criar e manejar os cães os fazem ter crises quase que constante de ansiedade ( oriunda do confinamento e da baixa interação sócio-ambiental mais autêntica e conforme suas naturezas puramente animais), sendo esse distúrbio do comportamento facilitador de várias doenças, já que qualquer estado de ansiedade gera a liberação dos hormônios adreno-corticais que agem em vários mecanismos fisiológicos do corpo, trazendo alterações negativas, inclusive à pele.

Pela complexidade de manifestações sintomatológicas na pele, torna-se difícil, muitas vezes, ao Médico Veterinário, dar um diagnóstico preciso. E como toda patologia, sempre devemos buscar a causa das enfermidades para que possamos trazer a cura ao animal ou para controlarmos as enfermidades que assumem um caráter crônico, sendo os distúrbios de pele os que mais assumem características com potencial de cronicidade.

Isso ocorre tanto pelo descuido do proprietário em não valorizar as lesões iniciais que seus animais apresentam, tanto quanto, pela inabilidade ou inexperiência do profissional em saber diferenciar as lesões de pele. Muitas dessas lesões já apresentam características variadas e diferentes do sitio inicial pelas inevitáveis alterações que apresentam em função do ato do coçar ou lamber que o cão usa como forma de alivio do sintoma, permitindo com isso as chamadas lesões secundárias, muitas vezes as maiores responsáveis pelo sintoma em si, vindo a “enganar” o profissional.

Por isso com a dermatologia devemos ir bem além de simples raspados de pele como meio diagnóstico. Temos que ter um “bom olho clínico”, mais que tudo, e isso vamos adquirindo com o tempo e com a rotina de consultório, somado a um esforço de estudos teóricos sobre a pele e suas manifestações fisiológicas e/ou patológicas.

Esse caso que vou relatar, pelas características das lesões macroscópicas que estão bem visíveis na foto, ao clínico não habituado à ciência da dermatologia, tais lesões podem lembrá-lo inúmeras patologias da pele, sendo o mais comum de confundirem com doença fúngica, por serem lesões arredondadas que é clássica dos fungos mais simples.

Os fungos, em geral, fazem essa forma de lesão arredondada pelo seu mecanismo de ação, ou seja, eles tem um movimento “helicoidal”, saindo do centro da lesão para a borda da mesma. Por isso a importância de quando formos coletar ou raspar lesões suspeitas de fungo devemos fazer esse procedimento pelas margens da lesão e áreas adjacentes. Quando vamos tratar de forma tópica as lesões fúngicas em forma anular (”ringworm”), também, devemos nos atentar em colocar o produto pela periferia da lesão e não somente no centro dela, onde o agente patológico não está mais presente.

Mas vejam bem, há outras formas fúngicas ( dermatófitos) que não são necessariamente arredondadas, podemos ter também em forma nodular, difusas, na forma de crostas, pústulas, etc; já que esses patógenos são extremamente variáveis em seus aspectos clínicos.

Quanto ao caso clínico que vou relatar estamos evidentemente frente a uma dermatite seborréica caracterizada pelas lesões típicas chamadas de “olho de boi” onde identificamos descamação e engorduramento com evidência macroscópica de inflamação local e difusa. Essa forma de seborréia é bem comum de ser evidenciada nas raças Cocker e Springer Spainel.

Mas antes do relato do caso em si vou fazer algumas conceituações para vocês possam entender melhor as chamadas Síndromes Seborreicas.

“Seborréia é uma enfermidade cutânea crônica de cães caracterizada por um defeito na queratinização, com crescente formação de escamas; ocasionalmente por excessivo engorduramento da pele e pelagem, e algumas vezes por inflamação secundária”. ( Muller - Kirk - Scot - Dermatologia dos Pequenos Animais - página 637).

Baseada nesse conceito essas desordens podem ser classificadas de 3 tipos: Seborréia Seca, Oleosa e a Dermatite Seborreica.

A Síndrome Seborreica tem uma base bem forte da genética, portanto, os cães de raça pura tendem a desenvolver seborréia primária idiopática com bastante frequência; sendo que para cada tipo dessa patologia de pele existe uma maior ou menor predisposição. Por exemplo, na forma seca as raças mais atingidas são os cães Pastores Alemães, os Dachshunds e os Pinchers. Na forma oleosa são os Cockers e os Shar Pei.

Mas saliento que as 3 formas de seborréia não significam doenças de pele diferentes, mas um complexo, cada tipo delas pode apresentar certas características das outras manifestações.

O fato de ser seborréia primária ou secundária tem sua importância para fins de tratamento, sendo fundamental fazermos essa distinção.

Seborréia primária é idiopática ( sem causa evidente) ou devido a alterações metabólicas de fundo endócrino ( hipotireoidismo, hiperadrenocorticalismo, alterações das gônadas sexuais, hipossomatropismo, diabette melittus e distúrbios lipidicos) ou dietético ( gordura, proteina, Vitamina A, zinco, má absorção/má digestão - intestinal, pancreática e hepática- e defeito na metabolização da gordura).

Seborréia secundária são todas aquelas que ocorrem sem estar relacionadas as causas citadas da primária. E podem ter como doença base os ectoparasitas, endoparasitas, piodermatites e hipersenbilidade bacteriana, fungos, hipersensibilidade à medicamentos, trauma ou irritantes locais, doença auto-imune, neoplasias e ação ambiental ( calor seco).