SÍNDROME DA EXAUSTÃO


    Exaustão é uma síndrome caracterizada por transtornos físicos e mentais, desencadeados por exercícios físicos intensos em condições de calor e umidade elevados, ocorrendo devido uma sobrecarga ou falha no sistema de termorregulação. Durante a atividade física, em condições de temperatura e umidade elevadas, a termorregulação fica comprometida e o organismo canino apresenta dificuldades para conseguir eliminar o calor gerado pela musculatura exercitada, acrescido do calor ambiente. Quanto maior forem a temperatura e a umidade ambiente, menor será a perda de calor.

    Um único mecanismo é utilizado pelos cães para promover a termorregulação que é chamado de Polipnéia, que ocorre por força do aumento na freqüência respiratória para que haja aumento da expulsão de calor por vias respiratórias, ou seja durante a inspiração, parte do calor corpóreo é transmitido da mucosa do trato respiratório superior para o ar, que ao chegar aos alvéolos é saturado com vapor de água. Na expiração parte desse calor volta para a mucosa e ocorre uma porcentagem de condensação da água. A diferença entre o calor transferido para o ar inspirado e o calor transferido de volta para as mucosas é o resultado da perda de calor pelo trato respiratório.

    Os cães, aumentam consideravelmente a freqüência respiratória e, com isso, elevam a perda de calor por essa via. Essa elevação da freqüência respiratória se chama arquejamento ou ofegação. Ao contrário do que se pensa, os cães não transpiram pela língua! A elevação da freqüência respiratória causa intensa remoção de CO2 e torna o pH do sangue mais básico.

    Quando cães participam de exercícios severos, provas de agility ou mesmo exposições de beleza que são realizadas em climas extremamente quentes, aumentam concomitantemente as demandas de energia e irrigação sanguínea para a musculatura continuar a se exercitar, e para a pele promover a troca calórica. Para tanto, o sistema cardiovascular aumenta o seu trabalho, elevando a freqüência cardíaca e o volume sanguíneo ejetado pelo coração.

    Devido à deficiência na termorregulação, ocorrerá a hipertermia (aumento da temperatura corporal), a qual terá efeitos avassaladores sobre todos os tecidos orgânicos, principalmente, cérebro, coração, vasos sanguíneos, rins, fígado, pulmões e musculatura esquelética.

    O rápido reconhecimento e o tratamento da condição reduzem a severidade da síndrome de exaustão.

    Os animais afetados apresentam sinais de stress, fadiga significativa, desidratação, e elevação persistente da freqüência cardíaca e respiratória.

    Nos animais com bom condicionamento físico e boa função do sistema termorregulatório, após um período de repouso de 30 minutos, a freqüência cardíaca deve baixar para menos de 55 batimentos por minuto, a respiratória para 25 movimentos respiratórios por minuto e a temperatura corporal para menos de 39,5° C.

    Qualquer animal que apresente uma elevação significativa e persistente da freqüência cardíaca e respiratória, ou da temperatura retal, não deve continuar o exercício ao qual estava sendo submetido.

    Estes animais devem receber pequenas quantidades de água fresca, em intervalos freqüentes, cães que apresentarem uma elevação marcante da temperatura retal (maior que 40,5°C) devem ser resfriados o mais rápido possível. Banhos de mangueira com água fria sob a briza natural em um ambiente aberto auxiliam na perda de calor por convecção e evaporação. Atenção especial deve ser dada no resfriamento da cabeça, do pescoço e de grandes vasos subcutâneos entre os membros posteriores. Enemas com água fria e administração de fluidos via sonda nasogástrica também auxiliam na diminuição da temperatura corpórea, isso tudo deve ser feito o mais rápido possível os animais devem ser mantidos até que sejam observados de perto até a sua completa recuperação e que a temperatura seja regulada.  

    A fluidoterapia deve ser instituída imediatamente nos animais que apresentarem sinais severos ou que não responderem de forma efetiva ao tratamento conservador dentro de 30 minutos. O volume exato e a via de administração irão depender da severidade dos sinais clínicos. Na grande maioria das vezes a via de eleição é a intravenosa, e o volume a ser administrado pode ser superior a 2 litros de solução isotônica no caso dos labradores.

    Os animais afetados por síndrome de exaustão não devem ser transportados nas 12 a 24 horas subseqüentes, porque uma alta atividade muscular está associada ao transporte prolongado, o que aumenta os riscos do desenvolvimento de problemas pós-exaustão. Isto inclui problemas musculares severos, laminite (aguamento) e falência renal.

    Os riscos de um animal desenvolver síndrome de exaustão são reduzidos com uma preparação adequada e um manejo cuidadoso durante as competições, sempre levando em conta os efeitos das condições climáticas (umidade relativa do ar e temperatura ambiente) durante o evento.